Então, eu não gostei de Longlegs, mas....por quê? #ContatosdeHalloween
Talvez eu tenha desgostado (e gostado) desse filme pelos motivos errados
Enquanto os créditos de Longlegs – Vínculo Mortal subiam pela tela do cinema, eu ainda não possuía tantas opiniões formadas sobre o que tinha acabado de ver nas últimas 2 horas, apesar disso, uma única certeza me parecia incontestável: eu não tinha gostado do filme.
E ainda não gosto, mas o que havia no longa que teria me desagradado tanto? A resposta não apareceu tão fácil quanto imaginei, de forma que já faz cerca de 1 mês desde que fui ao cinema com mais 8 amigos – alguns familiarizados com o gênero, outros nem tanto, -, prestigiar aquele que era o mais novo integrante do clube de obras intituladas “terror do ano”.
Estávamos concentrados na tela, quando…
faltando meia hora para acabar, o primeiro casal deixou a sessão, não dei importância para este fato (acontece com mais frequência do que você imagina), pelo menos não até o momento em que mais dois casais abandonaram a sala de cinema logo em seguida, restando somente eu e meus amigos.
No momento, achei engraçado que essas pessoas não se interessaram o suficiente nem mesmo para esperar o final do filme, afinal, faltavam apenas alguns minutos. O abandono em massa da sessão não significava dizer que o filme em questão era bom ou ruim, mas demonstrava que Longlegs, acima de todos os seus possíveis defeitos ou qualidades, era uma obra que poderia despertar as mais diversas emoções, a indiferença não é uma delas.
Por fim, as luzes do cinema se acenderam, e bastou uma única expressão no rosto de cada um dos “sobreviventes”, para transmitir a mesma mensagem: nem a gente havia gostado do filme.
Porém, mais do que apenas delinear as razões de meu descontentamento, o que também me encucava era descobrir o porquê da minha necessidade em justificá-lo, neste ponto me deparei com um quebra-cabeça tão complicado quanto o encontrado pela agente Lee Harker, interpretada por Miaka Monroe (It Follows, A Quinta Onda), protagonista do filme.
Mas voltemos ao pré-Longlegs, dirigido pelo americano Osgood Perkins que, caso o sobrenome não seja familiar, é o filho mais velho do ator (e ícone queer1) Anthony Perkins. Não por acaso, Longlegs foi comparado com Psicose (1960) e O Silêncio dos Inocentes (1991) em diversos canais de mídia – inclusive no que diz respeito seu suposto tropo transfóbico.
“[…] uma obra que poderia despertar as mais diversas emoções, a indiferença não é uma delas’’
O material promocional de Longlegs foi estratégico ao revelar pouco ou quase nada sobre a trama, seus pôsteres e até seu trailer são compostos unicamente por frames e sequências visualmente impactantes da película, além de frases como “O terror mais assustador do ano!” e um grande mistério acerca do visual do personagem de Nicolas Cage.
Não demorou muito para que as pessoas começassem a se questionar...sobre que diabos esse filme se trata afinal!? A sinopse atual do Letterboxd o resume da seguinte maneira:
“Na busca de um serial killer, uma agente do FBI descobre uma série de pistas ocultas que ela deve resolver para acabar com a terrível onda de assassinatos”
e devo dizer que eles não mentem, é basicamente isso, quer dizer, na maior parte da película.
Lembrando de todo esse papo sobre o merchandising, me pergunto, o que não faz parte de um filme, no fim das contas, faz parte do filme? A opinião das pessoas sobre Longlegs mudaria se este possuísse outro título, cartaz ou trailer?
A resposta para o último questionamento nunca saberemos dizer ao certo, mas sinto que hoje as pessoas decidem se gostam ou não de um filme, antes mesmo de seu lançamento.
Longlegs transmite uma atmosfera de incômodo e desconforto que permeia o filme inteiro e inicia com uma sequência curta, mas memorável, proporcionando o nosso primeiro encontro com o tal do Longlegs. A partir disso, somos avisados que o longa será dividido em 3 partes.
As duas primeiras partes, apesar de distintas em ritmo e abordagem, carregam uma essência similar, de investigação policial e suspense. Se você procurar ler as críticas negativas sobre o filme, o consenso geral é de que o ponto baixo é o terceiro ato e, embora consiga enxergar claramente as razões por trás disso, particularmente, gostei mesmo foi é dessa terceira parte.
A crua verdade é que, quanto mais eu tentava encontrar as razões para minha frustação naquela fatídica sessão de cinema, mais avançava pelo caminho contrário, e me deparava com os elementos que, na verdade, me fazem gostar Longlegs!
O filme desde o primeiro contato é explicitamente permeado por um tipo de humor macabro, de modo que, cada vez que penso nas piadas sombrias da obra, chego à conclusão que quase nenhuma delas tem como propositor causar aversão ou choque no público - que até o segundo ato fica tão preso em desvendar os mistérios da trama-, Longlegs talvez esteja tirando sarro da gente! Longlegs tira sarro do espectador, de seu próprio público alvo: quem gosta de thrillers e espera algo parecido com O Silêncio dos Inocentes, se decepciona com o terceiro ato, quem gosta de uma trama clichê de filme de terror B, acaba se deliciando com o terceiro ato.
Longlegs não é nem um, nem outro, e acaba por ser um nada.
Ou será que não? Se enxergamos por essa perspectiva, Longlegs segue todos os requisitos de um filme clássico de suspense, apenas para chegar no final e quebrar a cara do espectador, que é quando nos damos conta que toda aquela investigação inicial nunca poderia ser acompanhada de forma comum, o filme propositalmente nos joga pistas que não fazem sentido, escolhe os caminhos mais difíceis possíveis para contar uma história simples e pula cenas que seriam o climáx de um thriller regular.
Se essa foi a intenção do diretor (e no fim isso não importa), então estamos diante de uma obra autoconsciente que brinca com o próprio gênero, acompanhamos uma investigação que não é uma investigação, mas que parece que é por ter todos os elementos de uma, e quebra a cara do espectador ao conclui-la de uma maneira que qualquer filme de horror dos anos 70 feito para a TV faria, tudo que foi trabalhado e vendido nos dois primeiros atos não faz questão de ser coerente com o terceiro.
Longlegs sabe que não é um Cure (1997)?
O filme de terror do ano é apenas uma versão de Maligno com T. Rex na trilha sonora e uma fotografia granulada? Sejamos sinceros, qualquer filme que faz um grande mistério em torno da cara do Nicolas Cage já é engraçado pra caramba.
MAS E VOCÊ? Gosta de Longlegs?
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ah, e não vai embora que ainda tem coisa.
recados imediatos…
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Terceiro, eu não sou nada sem o apoio de vocês, sério. Cada vez que vocês curtem a Contatos no Insta ou no Bluesky, a nossa comunidade gratuita cresce. Também percebi que nosso engajamento ainda é bem baixo aqui na Substack, logo um comentário neste post já ajuda bastante.
E quarto; vou dar uma olhada nessa função do chat, quero esse contato
imediatocada vez mais direto com vocês, comentem, republiquem, me mandem e-mails, sugiram pautas, me digam se estão gostando da newsletter (e do que não estão gostando também, por exemplo, vocês gostam dos dias terça e sexta?)
Acho apropriável finalizar este texto com T. Rex, assim como nosso amado filme Longlegs:
segundo eu mesmo.
Achei interessante você falar de Malignant ali no final, porque é um filme que eu adoro. Sinto que Longlegs peca muito no que o outro acerta: (spoilers) Malignant ao revelar ser "mais galhofa" ou ao menos Mais Filme B do que se dava a aparentar, parece que é um twist divertido do diretor que demonstra autoridade em ambos os momentos "A24" e "Filme B". Longlegs por sua vez eu senti que foi uma mistureba de elementos sem explicação nem bom motivo pra existirem, nada da investigação parece tão concluído como somente abandonado enquanto plot. Não existe um rastro de sinergia entre a cena do Nic Cage andando pela casa da protagonista, onde ele se demonstra esguio e distante, e o personagem galhofa (que eu achei divertidíssimo) que ele demonstra ser em outras cenas.
Em outro aspecto menos "crítica de cinema", eu como alguém criado em família católica e que chegou a fazer até crisma achei toda a questão do satanismo muito fraca. Eu duvido genuinamente que o diretor tenha tido uma criação cristã. Nada parece ter muito incentivo: se a facção Diabo/Longlegs consegue atingir seu objetivo... e aí? Quais são os stakes? Não existe mistério tanto quanto existe o diretor imaginando que evocar satã é o suficiente para aterrorizar a audiência. A mãe da protagonista não parece ter intenções claras: se em um dado momento ela só estava fazendo isso pela proteção da filha, ao final do filme ela se entregou ao demônio... por que? O que ela ganha em troca? Algo foi prometido por essa devoção? A mitologia cristã cria um "pai da mentira" que oferece de tudo para seduzir e... ela trabalha pra ele de forma voluntária? Genuinamente acho que esse filme só fez tanto sucesso nos EUA porque eles são protestantes e o satã deles é meio vago também. Perdão, acho que me empolguei. Mas espero ter ajudado na discussão!
Satanismo is brat in 2024